A ciência já estabeleceu que a obesidade é a segunda maior causa de câncer considerada “prevenível”. Ela está associada a 13 tipos diferentes de câncer — entre eles, o de mama e o de pâncreas, segundo a Organização Mundial da Saúde.
Novos estudos, no entanto, estão tentando identificar o papel da gordura abdominal nesses tipos de câncer. Cientistas acreditam que ela pode ter um papel importante na formação de tumores porque são consideradas “biologicamente ativas” — ou seja, podem produzir substâncias que alteram o metabolismo e a saúde.
A mais recente dessas pesquisas, publicada em agosto no “Oncogene”, periódico ligado ao grupo “Nature”, mostra como a gordura visceral contribui para que uma célula saudável se transforme em cancerosa.
A pesquisa da Michigan State University, nos Estados Unidos, mostrou que a gordura abdominal produz a proteína FGF2 (sigla em inglês para “fator de crescimento de fibroblastos 2”). Em ratos, o composto foi capaz de “produzir tumores”.
Em uma segunda fase do teste, pesquisadores retiraram a FGF2 de secreções de mulheres. Ao transportar a substância para cobaias, também a proteína delas produziu mais células cancerosas.
Um outro estudo de meta-análise publicado no “British Journal of Cancer” em junho demonstrou que, em pessoas já obesas, um aumento de 11 cm na circunferência abdominal aumentou o risco de cânceres ligados à obesidade em 13%.
O estudo compilou dados de mais de 43.000 pessoas acompanhadas por cerca de 12 anos, e de outras 1.600 pessoas diagnosticadas com um câncer relacionado à obesidade.
Ainda, o acúmulo de gordura abdominal foi associado com maior risco para o câncer de colo de útero em estudo publicado na “PLos” em 2014. Estudos prévios já haviam demonstrado a relação da obesidade com esse tipo de câncer.
Uma outra pesquisa publicada em 2013 no “Cancer Prevention Research” mostrou que a gordura visceral está ligada ao câncer do intestino. Para verificar isso, pesquisadores separaram cobaias em três grupos: o primeiro comeu tudo o que quis; o segundo, também teve uma dieta irrestrita, mas teve sua gordura visceral removida por cirurgia; e o terceiro também teve a gordura removida, mas consumiu 60% menos calorias.
Nos resultados, cientistas observaram que os ratos que tiveram a gordura visceral removida desenvolveram menos tumores intestinais.
Segundo os pesquisadores, os resultados conseguiram demonstrar o papel exclusivo da gordura abdominal no câncer porque, naqueles ratos que continuaram obesos, a retirada da gordura abdominal por cirurgia conseguiu diminuir os números de tumores.
Todos esses estudos apontaram que, além do Índice de Massa Corporal (IMC) — número utilizado por médicos para medir o quanto o peso está saudável ou não — a circunferência abdominal deve ser incorporada entre as medidas importantes para estabelecer o risco do desenvolvimento de doenças.
Gordura na barriga é “biologicamente” ativa
Muitos desses estudos especulam que a gordura acumulada no abdômen seja biologicamente ativa. A hipótese é que elas liberam hormônios e alteram o metabolismo da região.
Já a gordura no restante do corpo é, em sua maior parte, subcutânea e menos ativas biologicamente. Ainda, a gordura visceral está perto da veia porta, que “drena” o sangue do sistema digestório e pode carregar substâncias produzidas por essas células de gordura para outros órgãos, como o intestino e o fígado.
Todas essas hipóteses precisam ser melhor testadas — principalmente porque cada câncer tem um mecanismo específico, apontam as pesquisas.